sexta-feira, 6 de março de 2009

Iê, volta do mundo Camará!


Ano passado dei um giro por 5 cantos do mundo: Finlandia, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Mexico. Este ano, acabei de retornar da Italia, Espanha e França. Como sou graduado em Geografia, não me faltam olhos para observar os elementos da paisagem: relevo, vegetação, clima, biodiversidade, oceanos e outros elementos, como por exemplo, os habitos e costumes, as relações humanas, a religião, as varias culinarias, as vestimentas etc. É legal ver e sentir as diferenças, tanto do aspecto fisico quanto do humano. Somos muito diferentes mesmo e até ai beleza... Abro parentesis: No meu tempo de estudante, estudamos um alemão chamado Ratzel, que defendia uma teoria determinista que, a grosso modo, afirmava que os povos das regiões temperadas ou das medias latitudes eram mais desenvolvidos por causa do clima com invernos muito rigorosos e estações bem definidas. Fecho parentesis. Não sei se foi por causa do clima, mas foram esses que se jogaram no mar e terras para explorar outros lugares, dando-se o direito de se apropriarem de riquezas que não eram suas e, escravizar povos que eles supunham menos inteligentes ou com cor da pele diferente da sua. O acumulo de grandes riquezas foi uma questão de tempo, tornando mais facil a tarefa desses estados se transformarem em potencias mundiais no futuro que se seguiu. Escrevo isso mas não nego as contrbuições... Hoje em dia, o que se vê muito na europa e USA é a intolerancia para com esses povos que foram explorados e escravizados no passado. Quase como por ironia, eles pensam que esses pobres estão chegando para lhes tomarem os empregos, as mulheres e as suas riquezas...Isso é ou não uma ironia do destino?
Ao desenbarcar em Milão, há 3 semanas atrás, o policial da imigração ao me liberar, aproveitou e falou em alto e bom tom, que eu mais parecia um traficante colombiano... Vejam só! Tive que engolir isto, pois seria dificil a comunicação... Nunca foi tão facil desrespeitar alguem, mais ainda quando for um europeu na europa contra um do terceiro mundo. Deixei para lá, mas pelo simples fato de estar compartilhando isto com voces, vê-se logo que o negocio não foi facilmente digerivel não. No dia seguinte a isso, tive que comparecer a uma delegacia por livre e espontanea vontade, cumprindo a lei, para registrar a minha presença no chão daquele pais e novamente dizer em qual endereço estaria morando durante a minha curta estadia. Preenchi papeis e os assinei. A minha senhoria estava tomando precauções para não ser atingida pela nova lei de imigração. Obra ingrata do senhor Berlusconi, "bambino de oro" da mafia italiana. Então, uma reflexão que tenho feito é de lembrar do filosfo alemão F. Nietsche, nem sei como se escreve, quando diz:" Meus filhos não são meus filhos, são filhos do mundo." E começo a pensar nos nossos "filhos" da capoeira, soltos no mundo, muitos se quer conhecem o pai ou as mães (no caso do Nzinga). Mas, sabemos que estão lá. E ainda, dentro dessa linha de raciocinio, como tratar todos os filhos indistintamente, imaginando o melhor para cada um deles? A partir dessas demandas existenciais, inevitavel fica não pensar nas coisas que nos move para frente dentro do espaço e tempo da capoeira. Estamos nessa para defender os interesses do nosso grupo primeiramente, ou estamos por uma causa? Na boa, falo isso na maior liberdade, por que sei que o Nzinga é um dos poucos grupos que na opinião de pessoas importantes do mundo da capoeira, faz exatamente o que diz que faz. E é verdade! Então, lutar para se estabelecer como uma instituição que atraves da sua militancia preserva, resgata e divulga os valores da capoeira angola e algumas tradições educativas dos povos bantos é de fato um objetivo a ser alcançado. Poucos falam ainda das ideias do velho Pastinha. Por outro lado, todos querem jogar e ensinar a sua capoeira. Olha o paradoxo! É como se fosse uma conexão encerrada e que no futuro fará muita falta e que alguem ou algum movimento organizado precisará fazer a "re"-conexão. As marcas e cicatrizes desses tempos serão inevitaveis se vierem. Seria: a cabeça separada do corpo. Se uma determinada filosofia não é colocada em pratica, como ela poderá nos transformar? Claro que podemos optar por outra, que seja, mas o que não se pode é fazer de uma e falar de outra. Nas vezes em que viajo, sempre volto com a moral elevada, por perceber e reconhecer as potencialidades dos nossos alunos e alunas sendo desenvolvidas no dia a dia num ambiente de liberdade fazendo com que os cerebros fiquem maiores. E isso não é nenhuma maluquice da minha cabeça, não. É a ciencia que tem afirmado. Encerrando esse papo, diria que num grupo de capoeira existem muitos espaços de vivencias, ocupe-os. Seja o de aluno que só paga a mensalidade em dia, seja o que além de pagar ainda está totalmente envolvido ou seja o que está apenas mais ou menos dentro, com duvidas sobre as escolhas que tem que fazer. Todos tem o seu papel, mas qual a historia que cada um gostaria de escrever nesse papel? Prestem atenção no lugar onde cada um pode se inserir no ambito da genealogia da capoeira angola. Isso não pode passar despercebido. Os nzingueiros de plantão, que estão engajados querendo fazer pela causa da capoeira angola se liguem de quão proximos estão da fonte. Se há alguem querendo seguir os rumos da capoeira angola, isso pode ser feito de duas maneiras: ou se vai atrelado à tradição ou não. A vida não vai se cansar de arranjar demandas e cada um deve ser responsavel pelas escolhas que faz. Se quer fazer carreira solo, assuma e se pique para bem longe. Parecerá facil, mas não acredite em tudo que os seus olhos verem. Se quer ser mestre com reconhecimento dos mais antigos, da velha guarda, então o caminho será longo e cheio de dificuldades, alegrias, compromissos, escolhas, afetos, desafetos e uma porção de coisinhas mais que ainda vão aparecer em nossos caminhos... Concluo afirmando a confiança que tenho em voces para zelar pelo que carinhosamente tem sido ensinado no Grupo Nzinga de Capoeira Angola.

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