sábado, 30 de abril de 2011

Águas Sagradas!

A temporada de furacões começou nos Estados Unidos e a das chuvas aqui em Salvador. Nesta época chove muito. Se a historia se repetir, choverá durante uns dois meses, com curtas estiagens. Nestes intervalos, o sol aparecerá forte, levando muitos baianos dependentes em direção do  mar. Ontem mesmo choveu o previsto para todo o mês de maio. Simplesmente choveu o dia todo, ficando mais intensa ainda no inicio da noite, na hora da roda de capoeira. Cheguei mais cedo lá, já prevendo que o espaço do Nzinga estivesse alagado. E realmente estava completamente inundado. Foi uma limpeza pesada que tive que enfrentar, contando com a ajuda de Adelmo, 7,  e Alisson, 10.
Bom, conseguimos retirar a água acumulada, mas as goteiras estavam em todos os pontos do salão. Foi dificil e cheguei a pensar em suspender a roda por isso e tambem por que o numero de pessoas era pequeno. De qualquer forma não dava mesmo para ir embora, ja que a chuva estava mais intensa ainda. Bom, secamos um pequeno espaço e começamos a roda com as pessoas que tinhamos. A maioria era criança. Cantei a ladainha e a chula. Depois, uma pausa e o som da chuva no problemático telhado de eternit do Nzinga me fez lembrar  do "ô Santa Barbara de relampoê". Fomos pegando vibração e, em seguida cantei aquela musica em Kimbundo: "Oiá, Oiá, Oiá êêê, Oiá Matamba do kakurukajo nzinguê. Por coincidência ou não, a chuva começou a diminuir e logo depois parou. Somos livres e podemos acreditar no que quisermos, Graças a Mzambi! 
 É comum vermos muitas rodas de capoeira onde, para garantir proteção, se canta primeiro para Santo Antonio, que aqui na Bahia associamos à Roji (Ogum).  Vale a pena pensar que Oiá (Iansã) tambem possui espada na mão e é boa de briga. Também protege. Para quem não lembra, Santa Barbara é associada a Oiá.
Mais pessoas começaram a chegar e as coisas foram se encaixando: mais vozes no coro, melhor energia fluindo, o circulo da roda se fechando, mais vibração... Coisa de magia, que a gente aprende a respeitar sem precisar entender. Para um dia como aquele de ontem, foi uma dadiva conseguir armar uma roda com quase 20 pessoas. Ao final, depois dos abraços e despedidas, resolvi voltar para casa satisfeito, para um descanso merecido, mesmo com a possibilidade do Samba de Botequim no forte de Santo Antonio. Neste momento, apenas chuviscava.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Triste Partida!

Exatamente no dia em que o saudoso mestre Pastinha completaria 122 anos de nascido, morreu hoje o mestre Bigodinho. Uma voz importante se calou entre nós, mas com as bençãos de Mzambi, brilhará nas rodas celestiais, de agora em diante, em companhia dos bambas. Sabia muitos sambas, corridos e ladainhas, alem de possuir um estilo próprio de cantar e tocar a "violinha". Quem não conhece o seu disco em parceria com o mestre Boca Rica está perdendo de ouvir uma obra prima. Talvez o melhor do genero! Do ponto de vista da Tradição Oral, quanto mais antiga é a fonte da tradição, mais valiosa ela é. Olha só o local de seu nascimento! Santo Amaro da Purificação: coração do Reconcavo baiano e berço de um matizado cultural africano impressionante. Uma perda!