quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Manifesto da Bahia

Venho aqui para transcrever esse manisfesto, que está exposto na forma de banner na Escola de Capoeira do mestre Curió no núcleo do Forte de Santo Antonio. A ideia é que o maior numero de pessoas que vivem o mundo da capoeira tenham conhecimento dele. Ei-lo:

Nós, os mestres, contra mestres, professores, alunos e pesquisadores da capoeira da Bahia, reunidos no ultimo dia 22 de setembro de 2010, no Forte da Capoeira, na cidade de Salvador, em assembléia amplamente convocada para avaliar questões referentes ao Pró-Capoeira, decidimos manifestar publicamente nossa posição, nesse momento que julgamos fundamental para o destino das politicas publicas sobre capoeira no Brasil, a partir dos seguintes pontos:

1 - Não temos acordo com a forma de definição dos participantes do Encontro Regional Nordeste, realizado em Recife (Pe) nos dias 8, 9 e 10 de setembro, pois em nenhum momento foram explicitados claramente os criterios de seleção dos consultores responsaveis pela articulação em cada região, nem muito menos os criterios de seleção adotados para a definição dos representantes de cada estado para participarem dos Grupos de Trabalhos do referido encontro.

2 - Não temos acordo com a forma de discussão estabelecida no encontro de Recife, onde as propostas discutidas em cada GT não passaram pela aprovação da plenaria final, causando muito desconforto entre os participantes, que não se sentiram contemplados com muitas das propostas apresentadas pelos GTs.

3 - manifestamo-nos firmemente contra algumas propostas apresentadas pelos GTs, que não refletem o pensamento da comunidade da capoeira como um todo, mas apenas uma parcela dessa comunidade no que diz respeito a:
- formalização de um modelo oficial de capoeira como esporte de alto rendimento, visando a sua inclusão nas Olimpiadas. Vale observar que não nos opomos a quem queira conduzir a capoeira como esporte, nosso posicionamento é contrario à formalização legal da capoeira como um esporte olimpico que naturalmente negaria a diversidade de suas praticas.
- Regulamentação da profissão a partir da logica do mercado, engessando a capoeira num modelo pré estabelecido e submetendo toda a comunidade de mestres e professores a um Conselho Federal que será o responsavel por determinar pode e quem não pode exercer essas funções.
- Submeter a formação do capoeirista ao ensino universitario como uma obrigatoriedade, quebrando assim as formas tradicionais de transmissão desses saberes, onde o mestre tem papel central.
       Diante dos exposto, exigimos que o processo de discussão encaminhado pelo Pró-Capoeira seja mais democratico, possibilitando que a diversidade de opiniões e visões sobre capoeira possam se fazer representar.
       Exigimos tambem que os criterios de definição dos representantes dos estados possam ser explicitos, e que possam garantir que as discussões nos GTs e plenarias sejam qualificadas com a presença de mestres, professores e pesquisadores que possam contribuir de forma efetiva na elaboração das propostas, tanto nos encontros regionais como na plenaria final, marcada para a Bahia no proximo ano.

                                                                          Salvador, 22 de setembro de 2010
       Maiores informações:
www.militanciaecapoeira.blogspot.com

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Instrumentos musicais da capoeira


Bem, vamos ver aqui inicialmente o que poderíamos chamar de bêabá dos instrumentos musicais, desde que o ser humano descobriu que precisa tocar, dançar e se comunicar através da musica. Os primeiros instrumentos feitos pelos seres humanos foram os tambores feitos de troncos ocos, Mondo (idiofones) e depois usando o couro (membranofones). Em segundo lugar foram os instrumentos de corda, no caso, o arco musical (Cordofones), e só por ultimo, vieram os instrumentos de sopro ( Aerofones). O caxixí, reco-reco e agogô estão na classe dos idiofônicos também.  A seguir, uso uma colagem feita por mim há uns 10 ou 15 anos atrás a partir de fragmentos de textos de estudiosos como Kazadi Mukuna, José Redinhas, Kae Shaeffer e outras revistas... Se liguem que eu não sou pesquisador e que não estou nem colocando a bibliografia de forma correta. A ABNT vai me processar. Portanto, me perdoem por algum equivoco que cometer."
A musica africana apresenta um caráter profundamente associado a todas as suas manifestações de vida. Uma vez divorciados de seu conjunto vital, os elementos musicais sofreram uma mutação conceitual tradicional banta para à popular brasileira. Angola participou largamente nos fundamentos culturais da música brasileira, por intermedio dos bantus fixados na Bahia. No começo da República, quase todos os maestros de Bandas de musica eram angolanos. Os instrumentos de sopro foram introduzidos por eles na música brasileira e americana. Segundo Oneyda Alvarenga, o que se tem de negro na musica popular brasileira é:
a) Estrofe poético-musical improvisada, seguida de refrão fixo.
b) Forma poético-musical constituída por um verso único, seguido de refrão curto.
c) Quebra de quadratura melódica por vários processos.
d) Cantos de rituais afro brasileiros que usam uma escala abaixada, de escalas pentafonicas e hexacordais.
e) Elemento coreográfico único: a umbigada.
f) Grande numero de instrumentos de percussão
g) A marimba e o berimbau
h) Criação de danças dramaticas: congadas, alto do bumba meu boi, cucumbis, taieiras e etc.
No início do século XX eram raros os estudos sobre os povos africanos bantus. Os progressos técnicos ajudaram muito na fixação de musica gravada, já que não adiantava muito ter somente a letra e não ter a musica. O processo de recolha começou mesmo com os discos fonográficos (agradeço se algum leitor quiser mandar mais informações sobre gravações fonograficas). Ao mesmo tempo eram raras as recolhas de instrumentos musicais. A grande liberdade do sentido tonal, ao mesmo tempo plástica e fixa, apresenta-se como característica geral do mundo bantu. As canções bantus , mesmo que insistindo num determinado tema, eram todas de improvisação. Dominam melhor as técnicas percutidoras.Vários são os elementos musicais existentes na música popular brasileira que tem origem banta: a presença de 4 pulsos no início do surgimento do samba, e de 16 pulsos time lines no samba que é tocado atualmente.
Os Cordofones - O mais primário instrumento de corda existente no inventario musical angolano é o monocórdio ou Arco Musical. Há fortes evidencias de que o arco musical já estava em uso por volta de 15 000 a.C., de acordo o Harvard Dictionary of Music ( Pag. 551-552, 1970.) Como vemos, é um dos mais primitivos instrumentos musicais. Pode ser encontrado fazendo parte de inúmeras culturas no mundo: Novo México; Patagônia; África; Brasil e outros.Há diversas variedades. O simples arco de caça, amarrado ao meio que o divide em duas partes, é um tipo, onde o tocador coloca uma ponta no chão e a outra na boca, que servirá de caixa de ressonância, enquanto percute com uma varinha. Entre os bantus existe uma forma especifica, em que a cabaça permanece presa por um barbante ao próprio arco. Variam muitos os modelos, e pela grande variedades de línguas, variam muito os nomes. Um modelo de arco musical é o Cambulumbumba, que é tocado por 3 músicos. O arco continua a ser de caça, que serve de arco bocal e também como arco de cabaça, mas a caixa de ressonancia é uma grande metade de cabaça que fica emborcada no chão. Palavra banta, cuja raiz mbulumbumba é comum na designação de algumas espécies de arcos musicais. É um instrumento infantil para os bantus. Do arco musical originaram-se a Harpa, a Cítara e o violão entre outros. Em torno dele pairam lendas e superstições. Entre os Covas do México, o arco musical é usado com a caixa de ressonância separada, que é um emblema sagrado da Deusa da lua e da terra e só as mulheres podem toca-lo. Na Rodésia, é tocado em ritual de iniciação das meninas. Os Washam Balás, do leste africano crêem que um homem não pode conseguir uma esposa se na hora em que ele estiver fazendo um arco musical, a sua corda se romper, pois sendo um objeto sagrado, isso não é um bom sinal. Na África Bantu existem várias lendas acerca do arco musical, e uma que já é bastante conhecida no Brasil é a da menina que transforma-se em berimbau. Segundo Curt Sachs, o arco musical foi um dos primeiros instrumentos a serem usados na intimidade e para induzir a meditação, sendo um instrumento sagrado apropriado para se por em contato com os espíritos. Para o africano, os instrumentos são seres dotados de alma, possuidores de força misteriosa e dignos de respeito. Há quem afirme que foram os egípcios que acrescentaram a caixa de ressonância ao arco musical. O arco musical se apresenta de diversas formas. No conjunto dos instrumentos musicais brasileiros, ele sem dúvida é de origem bantu, e que aos poucos vai ganhando cada vez mais espaço na musica popular brasileira, que até então estava confinado ao conjunto musical da capoeira, o que é ainda um enigma a ser desvendado pelos pesquisadores, sabe-se porém, que o termo Berimbau é derivado do Quimbundo – Mberimbau – (cf. Mendonça 1948: 329). Não devemos esquecer que o berimbau, aquele feito de metal, medindo 6 centímetros e que era tocado preso nos dentes já era bastante conhecido na Europa. Em Portugal esse instrumento foi comum desde antes de 1550. No Brasil, o termo foi usado com um modificador: Berimbau de barriga. Vários estudiosos enumeram muitos outros nomes para o berimbau de Barriga: gunga, rucungo mbolumbumba (Muilas), ngonga (Kimbundo), lucungo (Lundas-Quiocos), rucumbo (Lundas), hungo (Luanda), oburububa (Benguelas), nhungo (Malange), bucumbumba, chikomba (Bosquimano), kindendo (Amboins), kariari (Quioco) urucungo, humbo e etc. Membranofones: Existe um tambor que não pertence a esse grupo, mas sim do grupo dos idiofones. O Mondo é um tambor interessante pela construção e pela função, ele é totalmente de madeira, em peça única e destina-se à transmissão de mensagens, por um processo de tamborilada. Pode ser ouvido há vários quilômetros de distancia. É encontrado na maior parte das etnias do norte de Angola. No Candomblé, os atabaques possuem papel especial. Os inquices e as filhas de Santo quando entram no salão dançando, reverenciam primeiro os tambores. O três atabaques: Run – o mais grave, que ao contrário de outras formações percussivas, onde os instrumentos graves é que sustentam a base, o Run é que varia e fala mais. O Rumpi, que é o atabaque do meio, faz as vezes de intermediario, auxiliando na fala, mas mantendo a marcação. O Lê que é o menor e mais agudo, faz a marcação rítmica. Certamente o atabaque foi o primeiro instrumento da capoeira. Os cantos Bantus tem necessidade, alem dos instrumentos, dum solista. A letra é variável para cada ocasião, abordando por temas: fatos de momento, saudades da terra natal, ou simples acontecimentos e canções de trabalho. Em relação aos traços musicais bantus detectados no cenário musical brasileiro, além do agogô para o qual pode ser estabelecidas semelhanças na natureza de seu uso, ritual/ profano entre a África negra e a sociedade brasileira, o berimbau, o caxixi e o padrão rítmico de divisão de tempo de 4 pulsações sofreram mudanças na forma de uso.Os Pandeiros são constituídos por um aro de madeira de jenipapo, com espaços laterais para os chuás ou platinelas de metal e um tímpano de couro de carneiro em um dos lados. Quando for quadrado recebe o nome de Adufe. O pandeiro é usado na marcação ritmica da capoeira, seguindo a marcação do atabaque. Apesar de ser apontado como sendo de origem africana, há estudiosos que afirmam que é um antigo instrumento da India. Foi usado em cerimonias religiosas pelos hebreus e ibéricos. Afirmam ainda que entrou no Brasil pelas mãos dos portugueses em 13 de julho de 1549 na Bahia. Em Cuba, é um importante instrumento na liturgia nagô, havendo até pandeiros especiais para orixás.
Os Idiofones: No Brasil, mesmo com a industrialização, muitos instrumentos conservaram sua estrutura organológica característica, o que facilita a tarefa de remontar as suas origens. Mas, vários instrumentos são amplamente difundidos entre tribos africanas, e cuja origem não poderiam ser atribuídas à região banta (Zaire – Angola). Um destes instrumentos é a Campânula Dupla de tons altos (pequenos) e de tons baixos ( largos), presa nas extremidades de uma haste metálica curvada (o agogö). Este tipo de campânula comum na África é conhecido entre os Bakongos do Zaire com o nome de Ngongi, e com o nome gerundial de Nkobu entre os Lubas. No Brasil adaptou o nome iorubano de Agogô. Independente da orquestração em que aparece (religioso ou popular), em algumas regiões, o agogô cumpre uma função única de dar um motivo rítmico contrapontístico de acordo com o tambor. Já na região dos Ashanti, em Gana, o agogô é usado em número de dois ou três, de diferentes tonalidades, criando assim um acompanhamento harmônico e rítmico para a melodia vocal e ao mesmo tempo servindo como marcador de divisão de tempo ( time line) para toda a composição. Para o curandeiro, o agogô é um valioso instrumento para suas invocações.Entretanto, suas funções não tem sido modificadas; ele continua a dar os padrões rítmicos básicos, tanto nos conjuntos religiosos como nos conjuntos populares.Muito generalizado na metade norte de Angola, o agogô é um antigo instrumento real e ocorre muito em culturas aristocraticas, recebe o nome nativo de Gongue ou Gongo, embora existam outras denominações como Xigongo, Lubembe . É feito de ferro e as vezes de cobre.O Gongue é constituído por duas campânulas unidas por um elo metálico em forma de U que as coloca uma ao lado da outra. É feito com o cuidado de manter certa diferença de som entre uma campânula e outra. É tangido com uma varinha de madeira dura.
Peça de feição primária e que se encontra por toda Angola é o RECO-RECO. Confeccionados de palmeira de ráfia na África, no Brasil são geralmente feitos de gomos do bambu onde fazemos incisões transversais por onde fricciona-se um pauzinho para se obter o efeito sonoro emitindo um som rascante e monótono. Aqui no Brasil são feitos normalmente de bambus, cabaças afiladas e até de madeira torneada para o universo musical da capoeira. Mas há reco-recos de metal usados nas escolas de samba. Pode-se até admitir a origem africana do reco-reco, mas o Maestro Heitor Vilalobos achava que é o mesmo ru-ru dos índios e que os portugueses chamavam rekereke. Em Luanda e outros pontos do litoral, alguns reco-recos possuem duas áreas denteadas, produzindo um som mais brando ou mais forte. Há registro de reco-recos (1846, Tito Omboni) que atingem a altura do tocador( África Ocidental). Em Cabinda, o reco-reco é muito tocado pelas mulheres. Outro instrumento amplamente conhecido na África é o Chocalho de cesto, que sobreviveu no Brasil com o nome de Caxixi e em sua forma menor, associada com o conjunto musical da capoeira tradicional e também com o candomblé (Angola, Gege-nagô, caboclo, Keto.) Um de seus traços físicos mais característicos é a base feita com um pedaço de cabaça donde sobe tiras de vime que entrançarão nas espiras. Geralmente são manufaturados pelo desenvolvimento de uma tira de vime ou junco em espiral ligeiramente decrescente, uma alça no final. Na capoeira, onde é muito usado junto com o arco musical (berimbau), o caxixi duplica o padrão rítmico dado pela baqueta na haste metálica do arco, e dá ornamentações rítmicas entre o ritmo básico marcado no arco. "
Usualmente se diz que na orquestra da capoeira existem 8 instrumentos: 3 berimbaus, 2 pandeiros, 1 reco reco, 1 agogö e 1 atabaque. Na verdade são 11 instrumentos, ja que os caxixis são de fato importantes na orquestra da capoeira.












Nzinga Muleeke