sexta-feira, 13 de março de 2009

Ça Vá!


Quando nos últimos dias de fevereiro desembarquei no Charles De Gaulle em Paris, a minha aluna Luna Vargas estava lá me esperando com a prontidão que todo mestre que ter das suas discípulas/os. Principalmente quando o mestre não falar a língua daquele pais. Mesmo sendo descolado, as vezes fico na maior tensão. Mais ainda quando a gente sabe que determinado pais tem histórico de preconceito e racismo. Nem falo tanto por mim, mas por outros companheiros de jogo que se aventuram pelos aeroportos no mundão de meu Deus e que , as vezes por falar pouco em sua própria lingua, não conseguem um nível satisfatório de comunicação e passam também por seus momentos de tensão. Ça vá, voltando à prontidão, estávamos indo de trem para o centro de Paris, eu e Luna, conversando muito, dando varias gargalhadas, coisa difícil em trens e metrôs da europa, quando lá na frente do vagão tinha uma mulher que a todo instante se virava para nos observar com uma cara amiga, quase sorridente também. A certa altura das risadas, ela exclamou em alto e bom tom: “como era gostoso ouvir a gente falando o português”... Aí a gente chamou-a para vir para junto e participar da conversa. Ela nem pestanejou, veio incontinente em nossa direção e aí notamos que ela carregava uma sacola. Sentou-se imediatamente atrás de mim, pois os assentos ao lado estavam ocupados com a minha bagagem. Nos apresentamos, o nome dela era Iolanda e ela tinha vindo de São Paulo. Estava virando a vida vendendo coxinha. Sim, a nossa coxinha de galinha era o produto que ela estava fazendo sucesso em Paris. Só isso já torna a simples coxinha numa coisa chic. Ça vá! Conversamos mais um pouco e ela foi nos contando que havia acabado de embarcar o filho dela para São Paulo. Ela tinha comprado duas garrafas de um bom vinho francês para mandar de presente para a sua mãe, só que o filho vacilou e não despachou nas malas. Na hora do embarque, as garrafas foram barradas. Medidas de segurança... Por isso Iolanda estava com o pacote nas mãos. A viagem foi longa e a conversa comprida. Lá pras tantas, ela me dá de presente os vinhos e me deseja boas vindas a Paris. Agradeceu a acolhida na conversa e desapareceu numa parada qualquer do percurso. Me senti abençoado e prestigiado pela sorte! A Luna não acreditou na forma como tudo aconteceu. Chegou até a esfregar o seu braço no meu para ver se a sorte pegava nela também. Essa foi a chegada. A saída também é digna de um relato. Sem querer tirar onda, foi quase apoteótico! No ultimo dia do estagio de capoeira, no dia 1 de março/09, depois que encerramos, fomos para um bar confraternizar com os participantes e com as pessoas que foram somente para a roda. Já tinha ido neste local durante o dia para tomar café com leite. Ça Vá! A noite, o tempo estava meio frio, 5 graus, e eu estava com a garganta detonada, rouco. Todos pediram cervejas, menos eu. Perguntei para os amigos, o que o trabalhador bebia depois de cumprir a sua jornada de trabalho decentemente, que era o meu caso. Congnac! Foi isso que comecei a bebericar. Falamos muito em capoeira. Depois mudamos de assuntos. Depois da primeira rodada, tinha um brasileiro com cidadania portuguesa que se aproximou da nossa turma para pedir licença para participar daquele encontro tão alegre e festivo. Foi mais um para engrossar o coro! Ele se ofereceu para pagar o meu congnac, e por extensão a cerveja da rapaziada toda. Era só o começo! A medida que fui bebendo os drinks, o choro da felicidade foi ficando cada vez mais fácil, o que era desejável... Rolou a sessão piadas. Aí então é que foi engraçado... Me lembrei de piadas antigas e históricas. Algumas que tinha aprendido com o mestre Moraes, notavel contador de historias. A essa altura todo o bar já tinha puxado as mesas e cadeiras para próximo da nossa e eu já sabia que todos falavam português. Ou melhor, que todos me entendiam. Aí, no quinto congnac, pedi permissão para contar umas piadas de português. Ao perguntar isso, parecia que eu já tinha contado uma piada, pois todos gargalharam muito. Entendi aquilo como sendo uma permissão. Antes porem, relembrei que em Portugal os brasileiros é que são as vitimas nas piadas...outra piada! Então comecei de fato. Contei varias! Todos estavam muito felizes e a essa altura, as cervejas da rapaziada nem sequer chegavam a metade, já que logo eram trocadas por novas, pois já era grande o numero de pessoas dispostas a pagar uma rodada. O sexto congnac foi oferecido pelo dono do bar, quando já estavamos de pé. Neste momento tambem me perguntou se eu tinha souvenirs para vender e terminou que me comprou dois berimbaus pequenos para movel. Teria ainda na fila uns 10 congnacs para tomar, mas tava chegando a hora de voltar para a casa e a saída não foi nada à francesa. Pelo contrario: todos na porta do bar pedindo para a gente ficar mais um pouco e tomar a saideira. Quase que foi difícil sair de lá...

2 comentários:

Anônimo disse...

Poloca, essas coisas só acontecem com alguém abençoado pelos Nkisses. Suas histórias são dígnas de edição. Por que não escreve esses relatos de viagens e de vida, em forma de crônicas?
Bjs. Te amo

Micau, sua irmã

Anônimo disse...

Que saudades Poloca!Eita! Beijos! Elaine